Eleições 1990 em Alagoas, Geraldo Bulhões eleito governador, contra Renan Calheiros, excomunista, debutante no PRN, legenda sem expressão nacional e por coincidência um partido nanico na terra dos marechais. Terminada as eleições os partidos buscam se acomodar em torno do poder: alguns eleitos resistem a tentação de correrem para os braços da situação, preferem dar um tempo, tal qual ocorre com as carga de jerimum que se acomodam ao andar da transporte; outros têm pavor em ser de oposição, ser contra o governo é algo que jamais passou-lhe pela cabeça. Nesse segundo grupo destaca-se J.J: -“fazer oposição é um sacrilégio político, uma tentação demoníaca no mundo do parlamento”, justifica para aos colegas. Todavia, o governador Bulhões começou a se preocupar com o sentimento de unanimidade criado em torno de sua gestão; vindo do parlamento, fez muitos amigos, sem distinção partidária, quase todos fraternos, por isso mesmo antes de assumir começou a ser cortejado para as adesões; consultou amigos mais chegados, a especulação era no sentido de que pelo menos, tentasse um arranjo oposicionista, já que o debate, as críticas dariam visibilidade aos projetos encaminhados a Assembleia Legislativa, ao mesmo tempo que despertava o interesse da imprensa para o assunto, consequentemente, divulgava o governo.
O chefe do executivo, ao chegar do Palácio, as treze horas, correu para o banho: diminuir o cansaço, almoçar com a família e correr para sesta, como de costume. Ao sair do chuveiro, enrolado na toalha, deu de cara com a primeira dama; “e aí bem, costurou os acordos com o legislativo”? Ainda não, respondeu, mais que de repente a primeira dama puxou a toalha enxovalhada do corpo do marido, enrolou a ponta da mesma na mão direita e berrou: “como é Geraldo”, o esposo docilmente redarguiu: “não fiz ainda mulher, mas vou fazê-lo hoje a tarde”, “muito bem”, obtemperou a rainha do lar dos bulhões.
A tardinha J J foi convidado ao Palácio, antes, porém em uma roda de colegas parlamentares, eufórico, anunciou a novidade: convite para audiência com o governador, antes, contou várias estórias de sua vida parlamentar: testemunhou momentos tensos na Assembleia, com o deputado Claudionor Pereira de Arapiraca, que ia as seções com seu parabélum no coldre, aliais com quem se dava muito bem; com o deputado por Palmeira dos Índios, o pequeno Robson Mendes, que atirava em desafeto com a naturalidade de um caçador de lambu; contou, certa feita chegou a acalmá-lo, quando o pequenino Robson quis partir para as vias de fato com um colega. Ao fim e ao cabo, falava da grandeza de sua terra natal: as águas de São Bento, mergulhos nas águas do mar vermelho e nadar no rio São Miguel; de Américo Vespúcio que em 1501, fora homenageado em sua terra natal pelos sociáveis índios Sanambis; repetia, “sou de origem Sannambi, meu negócio é parlamentar, conciliar, sobretudo ajudar ao governo do momento”.
No dia seguinte chegara cedo para a seção, como de costume os colegas o cercaram, J J sorumbático, demonstrava desânimo, alguém indagou: “problemas J J”? “Há se fosse problemas”, observou; “ora, ora, Geraldo quer porque quer, que eu lidere um grupo de oposição ao seu governo”; “Mas, J J você foi eleito pela oposição; – “não senhor, estou em um partido que fez campanha na oposição”, reagiu o colega “é o princípio da política: ser governo ou oposição” – “nada de princípio, ser oposição é infelicidade” ; – “eu mesmo nunca fui de oposição, eu sou governo, não tenho culpa se o governo muda de comando e de partido”. – “Sou fiel ao poder, digo mais, sou um PARLAMENTAR DE PRINCÍPIOS, não tenho culpa de o governo mudar de quatro em quatro ano”.
FRANCISCO CARTAXO MELO
Economista
Prof. Universitário aposentado
Consultor Organizacional
Analista de Planejamento e Orçamento-SEPLAG/CE aposentado