Opinião do Estadão

Bolsonaro, um cadáver insepulto Que ninguém se engane: sob inspiração do golpista condenado, os liber ticidas continuarão a atazanar a vida dos

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Bolsonaro, um cadáver insepulto

Que ninguém se engane: sob inspiração do golpista condenado, os liber ticidas continuarão a atazanar a vida dos brasileiros, investindo em crises institucionais para desmoralizar a democraciaExclusivo para assinantes Por Notas & Informações 13/09/2025 |03h002 minde leitura

A condenação de Jair Bolsonaro e de seus associados por tentativa de golpe de Estado não significa que esses dejetos da democracia tenharn sido eliminados da vida nacional. Pelo contrário: sob inspiração do ex-presidente, um cadáver político insepulto convertido agora numa espécie de El Cid da direita reacionária nacional, a tropa liberticida pretende continuar a atazanar os brasileiros, criando sucessivas crises institucionais e prejudicando o Brasil com o objetivo último de desmoralizar a democracia – raison d’être de Bolsonaro.

Consta que a vanguarda bolsonarista no Congresso está animada para fazer andar o tal projeto de anistia a Bolsonaro. Perdoar os mais perigosos inimigos da democracia na história recente do Pais seria umerro terrível, capaz de deflagrar o caos e paralisar a discussão de uma agenda realmente relevante para a sociedade brasileira. Na prática, a eventual liberdade de Bolsonaro significaria a prisão do Brasil

Se no ambito juridico há pouca controvérsia quanto à inconstitucionalidade da anistia aos algozes do Estado de Direito, é no campo político que os efeitos dessa irresponsabilidade se revelan ainda mais deletérios. Caso o Congresso aprove a anistia, é certo que o presidente Lula da Silva vetaria O corolário seria urma rusga entre Executivo e Legislativo em um momento crucial para a votação de matérias de interesse público. A provável derrubada do veto capturaria o País por semanas, talvez meses, de tensões políticas. Ato contínuo, a Procuradoria-Geral da República ou partidos da base recorreriam ao Supremo Tribunal Federal (STF). E não há dúvidas de que a Corte declararia a anistia inconstitucional.Estaria aberta, então, uma segunda camada de confronto, agora entre o Legislativo e o Judiciário. No Congresso, ganhariam novo fôlego projetos de retaliação ao Supremo, como a infame PEC da Blindagem, além de propostas para reduzir o tempo de permanência dos ministros na Corte ou para submeter suas decisões ao crivo parlamentar. No limite, pedidos de impeachment de ministros do STF poderiam prosperar no Senado. O resultado seria a paralisia institucional do Pais – precisamente o que desejam os liberticidas.

O golpismo de Bolsonaro foi derrotado nas urnas em 2022 e, agora, foi derrotado na Justiça. Sua condenação não representa apenas a responsabilização de um indivíduo, mas a reafirmação do pacto social democrático firmado em 1988. Permitir que um golpista condenado seja reabilitado politicamente equivaleria a vilipendiar a maior conquista civilizatória da sociedade brasileira nos últimos 40 anos.Portanto, cabe aos partidos que se autoproclamam conservadores e liberais-democratas compreender a oportunidade que têm diante de si. O afastamento definitivo de un estorvo como Bolsonaro abre precioso espaço para a construção de uma oposição ao governo Lula da Silva que seja responsável, republicana, comprometida com os valores democráticos e com a estabilidade institucional.

As legendas que se mantiverem atreladas a Bolsonaro, negligenciando o apreço da maioria do eleitorado pela democracia, tendem a perder. Ademais, Bolsonaro jamais foi um aliado confiável dos partidos. Sua trajetória demonstra o desprezo pela vida partidária. Bolsonaro sempre foi um deputado mediocre que nunca escondeu que seu interesse maior era fazer da politica um meio para enriquecer a si e a familia, jamais para servir à sociedade. Não há razão moral ou factual para que as forças políticas verdadeiramente comprometidas com os valores democráticos se sacrifiquem em defesa de alguém que tanto fez para acabar coma mesma democracia que é o húmus da atividade par tidária.Por tudo isso, a anistia aos golpistas seria nefasta para os próprios partidos à direita. O País não pode se dar ao luxo de alimentar um conflito entre Poderes em nome da sobrevivência de um desqualificado condenado pelas urnas, pela Justiça e, seguramente, pela História. O infortúnio penal de Bolsonaro deve ser visto como uma linha divisória: longe dele, os genuinos democratas; a seu lado, os oportunistas associados a um sujeito que há décadas se dedica a estorvar a vida nacional e que, mesmo atrás das grades, ainda é capaz de causar muita confusão.

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