A evolução dos DONOS DO PODER no país, chamado Brasil, sejam esferas federal, estadual e municipal, de quatro em quatro anos muda de dono, para ficar na mesma coisa. Nosso Brasil, desde a tenra idade assimilou equívocos que se estendem até hoje; para RAYMUNDO FAORO: “A coroa conseguiu formar, desde os primeiros golpes da reconquista, imenso patrimônio rural (bens “requengos”, “regalengos”, “regoengos”, “regeengos”), cuja propriedade se confundia com o domínio da casa real, …. sob as circunstâncias que distinguiam mal o bem público do bem particular, privativo do principe.” Essa é a atmosfera na qual o país foi plasmado, construído a partir da ideia de que não se diferencia o público do privado o que vale para todas as esferas de governo. Vejamos os exemplos de algumas peças levadas dos palácios do Planalto, da Alvorada e do Jaburu, por alguns ex-presidentes ou seus familiares. Ou o caso das joias recebidas por Bolsonaro e agora o relógio presenteado a Lula pelo governo francês; tudo isso demonstra o pouco apego dos nossos governantantes a questões éticas e a sentimentos de moralidade. Como diz Faoro é a “formação do patronato político brasileiro”
Na esfera estadual se multiplicam os descasos com a coisa pública e o desapego dos governantes em relação ao patrimônio estatal, alimentado pelos oligarcas, fundado no compromisso: troca de proveito, com o poder público submetido ao influxo e ao mando dos chefes locais; assim, nasce o coronelismo e dele se apropria o poder político para burlar a lei, submeter a vida civil local ao patrimonialismo e ao mandonismo dos coronéis, cercados de cabras de confiança ou simplesmente de bandidos e cangaceiro; para Antônio Bezerra, “Os homens mais influentes pela posição e pelo dinheiro percorriam, com bandos armados, da serra ao vale e do vale a serra, decidindo de tudo e sobre tudo a lógica do bacamarte”. Hoje, mudaram os personagens, as estratégias, mais o princípio é o mesmo: o dono do poder do momento usa o dinheiro público sem qualquer cerimônia ou regramento, em seu benefício ou de seus compassas; doam aos amigos e correligionários circunstanciais o patrimônio público e administram favores sem critérios de prioridades. É o caso do escândalo dos irmãos Batista da JBS; no Ceará tivemos denúncias da Cascavel Couros, do grupo da JBS de doações em troca de crédito, etc.; em Mauriti, nos governos do PT/PDT as doações de terrenos a amigos e/ou patrocinadores de campanha, sem quaisquer critérios técnicos ou sociais, foram abundantes.
O judiciário como afirma Bruno Carazza, em “O país dos Privilégios”, volume I: “A lei orgânica da Magistratura atribui aos integrantes do Judiciário um conjunto de vantagens adicionais a seus vencimentos básicos, tais como salário-família, verbas de representação, gratificações por acúmulo de funções em outros ramos da Justiça”, etc. Continua “com o passar do tempo, porém, um intrincado mecanismo que combina legislações federais e estaduais, decisões judiciais e deliberações administrativas entrou em funcionamento para ampliar as benesses conferidas aos magistrados”. Os famosos “penduricalhos”.
Logo, se constata que todo as artimanhas patrocinadas pelo patrimonialismo e pelo afilhadismo, apoiados nas benesses advindas do poder político e do “estamento burocrático” (Faoro), se repete, vergonhosamente, em todas as esferas de governo, quando não descamba para a corrupção. De maneira que não nos libertamos dos erros políticos atávicos e muito menos nos desvencilhamos dos vícios públicos herdados do colonizador.
Não importa qual sigla partidária esteja no poder, é o velho chavão assimilado por quem assume as rédeas da administração: “já que todos se locupletam, vamos também nos locupletar”, a despeito da cor partidária. A nação já apelou pra tudo, agora “para defender o Brasil de tanta corrupção, só escalando Deus no gol.” Seja, para comandar o poder público.

MÁRIO THOMAZ ARTICULISTA
POLÍTICO DO ESPAÇO CARIRI