Palestina do Cariri, Profissionais da Educação que fizeram História

PRIMEIRO PROFESSOR DO DISTRITO DE PALESTINA MANUEL SALUSTIANO DE SIQUEIRA, MESTRE SALU Antes de nos determos sobre os professores que contribuíram para

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PRIMEIRO PROFESSOR DO DISTRITO DE PALESTINA MANUEL SALUSTIANO DE SIQUEIRA, MESTRE SALU

              

Antes de nos determos sobre os professores que contribuíram para impulsionar a educação de Palestina, adiantamos algumas considerações sobre esse importante distrito de Mauriti: os primeiros povoadores da antiga Favela, data de 1827; “as famílias Martins de Oliveira, Barbosa de Lima, Felipe Fernandes, primeiros habitantes das margens dos riachos Canabrava, dos Bois e Giqui.

A água sempre induziu a arrumação de aglomerado humanos, “áreas nas margens de corpos hídricos são de grande importância ambiental e urbanística por dois fatores: estão intimamente ligadas ao curso d’água, sendo definidas como espaços tridimensionais que contêm vegetação, solo e rio, constituindo-se das áreas mais dinâmicas da paisagem; tanto em termos hidrológicos, como ecológicos e geomorfológicos (LIMA, 2008; KOBIYAMA, 2003)”.

Outros fatores contribuíram para a dinâmica do crescimento da antiga Favela: o sentido de pertencimento de seu povo, a motivação empreendedora de sua gente, a construção do açude Quixabinha e o denodo de suas lideranças. Tudo isso, são motivações que potencializaram a solidariedade de sua gente na construção da primeira capela em 1937; a criação do distrito de Palestina em1985 (Lei 11.154).

Segundo Isaac Gomes, (in memoriam) Palestina “nasceu sob a áurea do progresso: aqueles que construíam o açude Quixabinha, passaram a morar no acampamento ou nas suas proximidades, incorporados à população local, alavancaram novos negócios para as vilas de Palestina e Quixabinha; proporcionaram, inicialmente, a redenção de todo o vale, com o represamento das águas do Riacho dos Bois e controle do Riacho do Gomes; o Quixabinha deu esperança e progresso para populações que margeiam o Riacho dos Porcos.”

Nesse contexto, surgem as primeiras escolas isoladas e seus docentes: MANUEL SALUSTIANO DE SIQUEIRA–“Nasceu no dia 31 de outubro de 1910. Adquiriu seus conhecimentos com professores da época, porém, não chegou a obter graus por não haver sistema de ensino organizado.

Aos 25 anos de idade começou a lecionar, munido de conhecimentos invejáveis. Muitos filhos de Palestina do Cariri, hoje portadores de Curso Superior passaram por suas mãos, entre eles, os médicos, Dr. Francisco Severino, de saudosa memoria, e Dr. José Severino Neto. Seu “Manuel Salu” ou “Mestre Salu” como era chamado na comunidade, tratava seus alunos como verdadeiros filhos e era incansável com relação aos seus compromissos na sala de aula. Não tinha métodos formais, porém, sua metodologia própria o elevava ao grau maior de GRANDE EDUCADOR. Dominava a gramática e a matemática (na época aritmética) com muita facilidade, de forma a ser procurado por estudantes de todos os níveis, inclusive por alunos universitários. Profundo conhecedor da ciência – um mestre polivalente fornecia dados e documentários a quem o procurasse, com a humildade de um santo e a segurança de um sábio. Na literatura era rei. Sentia prazer em comprar livros e após ler, repassar para as professoras, que ele carinhosamente as chamava de doutoras, ocultando, na sua humildade, o grande Doutor – ele mesmo.

No repasse dos livros, o seu comentário a respeito da obra e do autor, virtude de quem sabe e de quem conhece. Seu hobby principal era de fato, a leitura. Grande conhecedor e seguidor assíduo da religião católica. Conhecia a vida dos Santos na íntegra. Colecionava orações e cânticos e se emocionava sempre que comentava sobre o poder da oração. Como pai foi exemplar. Todos os seus atos foram e serão sempre, grandes LIÇÕES DE VIDA. Faleceu no dia 23 de março de 1994, aos 83 anos de idade”.

Grande contribuição, também, para a educação da antiga Favela foi da professora EUNICE MARIA DE SOUSA FREITAS, chegou em Palestina do Cariri no início da década de 1960, vindo do distrito do Anaua; de origem pobre, porém rica em sabedoria, casada com o sr. Antônio de Freitas, mãe de duas filhas: Vilian e Neide; dona Eunice, professora leiga, exercia com rigor suas tarefas pedagógicas, exercendo-as com compromisso e admirável dedicação.

“Na época não existia nenhuma unidade escolar em Palestina e sim o que chamávamos de salas isoladas e multisseriadas. Dona Eunice ao chegar, organizou sua sala, a demanda era grande, mas sua disposição era maior. Chegou a trabalhar com cerca de sessenta alunos, entre crianças e adolescentes, em um só expediente. Quando não conseguia fazer o acompanhamento individual, solicitava ajuda dos alunos do 3º e 4º anos para monitorar a aprendizagem das crianças da chamada carta do A.B.C., até o 2º livro, mas sempre sob sua orientação. E, assim, no final do ano, todos os alunos conseguiam uma aprendizagem surpreendente na leitura e na escrita, além de noções de patriotismo. É importante ressaltar que sem nenhum recurso ela organizava os desfiles de sete de setembro e de outras comemorações.

Além do amor pela sua família e o compromisso com a educação, Dona Eunice se dedicava aos trabalhos da Igreja, onde foi catequista, zeladora do apostolado, além de participar de todas as atividades da mesma. Sua grande paixão era a educação, uma vez que exercia a profissão com dedicação e esmero. Seu amor era tanto que só deixou de ensinar quando a vista embaralhada, por uma cegueira regressiva, limitou sua visão; e o reumatismo cuja dores insuportáveis e as deformações causadas pela artrite reumatoide, que a deixou vários anos em cadeira de rodas. Mesmo assim, nunca deixou de amar sua profissão, nem esqueceu os alunos que por ela passaram. Com lucidez veio a falecer no ano de 2001, com a consciência tranquila, pois ela sabia que seu dever tinha sido cumprido.

Mesmo não sendo filha de Palestina, Dona Eunice se sentia como se fosse da terra. Sua contribuição na forma educacional, religiosa e social, nessa localidade foi tão grande que com certeza jamais será esquecida por esta população, que lhe será eternamente grata. Pelo reconhecimento de seu trabalho, dedicação e compromisso com a educação de Palestina, seu legado foi perpetuado, como exemplo, para as gerações vindouras, através da homenagem, que se concretiza, nomeando uma Instituição de Ensino com seu ilustre nome: ESCOLA DE ENSINO MÉDIO PROFESSORA EUNICE MARIA DE SOUSA”.

Outras mestras marcaram presença e contribuíram com o processo educativo de Palestina: FRANCISCA MARQUE DA SILVA, JOANA MARQUES DA SILVA e MARIA BARROS DE SOUSA, esta, professora no Giqui. Segundo Isaac Gomes da Silva, (in memoriam), era filha de Manuel Pimenta de Sousa e de Jacinta Barros de Sousa; estudou no Colégio Santa Tereza do Crato, ao retornar ao Sítio Giqui “exerceu o cargo de professora pública municipal, tendo sido a principal responsável pela educação de todos os seus parentes que residiam nos sítios Giqui, Umbuzeiro, Malhada, Novos e Carvoeiro”. Por mais de dez anos cuidou da educação dos filhos de seus parentes e de amigos, deixou Palestina, mudando-se para a Bahia onde ingressou no Convento da Irmandade de Santa Tereza.

Os profissionais de educação que no exercício pedagógico, assumiram os desafios da ESCOLA ISOLADA, pobre em recursos materiais e raras, espalhadas pelo interior, não eram diferentes das suas congéneres da capital. Apenas explicitavam a ausência de políticas educacionais voltadas para a população pobre, portanto a boa educação, sob ponto vista do poder, é um serviço caro, cujo o acesso requer pagamento. É o sentimento voltado para a primaziada escola particular, paga, que só os filhos da elite endinheirada poderiam frequentá-la. O que, também, era, na época, a visão da Igreja Católica no Brasil, em combate renhido contra as teses de Anísio Teixeira de uma ESCOLA PÚBLICA UNIVERSAL E GRATUITA.

Foram as mestras e mestres das escolas isoladas que se doaram a educação em busca da escolaridade, sobretudo, das crianças, pobres, espraiadas por todos os rincões do país; heroínas que na maioria dos casos são pouco lembradas.

Assinala Raimundo Girão “a Lei de 15 de outubro de1837, determinava que todas as cidades, vilas e lugares mais populosos do Império abrir escolas de primeiras letras, tivesse escolas de primeiras letras, número estabelecido pelos presidentes de província”. Não logrou êxitos, ou como se costuma dizer a lei não pegou, como não se efetivaram vários outros diplomas legais na mesma direção. Esse é o legado de um país que não enxerga a pobreza, sobretudo como lastro de valores que está potencialmente reservado para mudar o país, desde que lhes deem a devida atenção; com políticas públicas de saúde e educação, entre outras. Observando que a “educação não é simplesmente preparação para a vida, mas a própria vida em permanente desenvolvimento, de sorte que a escola deve-se transformar em um lugar onde se vive e não apenas se prepara para viver ( AnísioTeixeira, 1997, p. 89).

Nota: agradeço a contribuição:

  • Das professoras da Escola Eunice Maria de Sousa Freitas
  • Maria Salete Gomes de Sousa
  • Clarinda Marques da Silva

FRANCISCO CARTAXO MELO

Professor da UECE aposentado, Economista/Analista de Planejamento Seplag/Iplance aposentado, Consultor organizacional FLACSO (Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais)

           

   

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