
“A Invisibilidade do Óbvio”, é o título de uma crônica do mestre Nelson Rodrigues, no Jornal O Globo, de 26/10/1968, nela procura mostrar a retidão do árbitro de futebol Armando Marques, algo não visível para os demais torcedores. Esse título me veio a memória ao ver a espontaneidade do prefeito João Paulo, em reuniões com lideranças políticas as mais diversas possíveis. O comentário que corre, de botequins a reuniões mais formais, é de que o João Grandão trabalha sua candidatura única, junto essas lideranças. E “como canário na muda não canta”, o prefeito silente, insinua sua ambição através de seus porta vozes, aqueles que, literalmente, estão sob sua sombra, esquece o chefe da edilidade o dito popular: “cão que muito lambe, tira sangue”, em regra do próprio dono. Só ele, no entanto, não ver onde está metido. O fazer político nunca deve esquecer que a memória curta em política, em regra, é cultivada sempre pelos que estão no poder, ou que buscam o poder, por sua vez, alimentam a ambição pessoal que move a engrenagem eleitoreira a cada pleito. Mauriti, é testemunha dessa prática, só que os políticos se refugiam na memória curta e olvidam exemplos de eleições passada. Pois, só tivemos candidaturas únicas, para os mandatos de 1924, 1927, 1930 e 1935, quando os prefeitos eram, basicamente, indicados, depois disso as eleições foram, sempre, disputadas. Mire-se no exemplo de Francisco Raimundo de Santana (Titico), eleição 1992, contra a máquina, as oligarquias e o efeito irmãos Bezerra que operavam contra o PT. Titico Levou mais de cinquenta por cento dos votos alcançados pelo candidato invencível: do saudoso dr. José Marcondes. A simbologia daquelas eleições está no fato de que qualquer candidatura que tenha respeitabilidade pode evoluir até a vitória, derrotando lideranças que perderam a credibilidade junto ao eleitorado: por atos de corrupção, mandonismo quando se encontrava no poder, promessas não cumpridas e desrespeito aos companheiros que ajudaram a dar-lhe a vitória. Há um caguete, até mesmo um vício, dos que são alçados ao poder em Mauriti, em abandonar companheiros que ajudaram a hastear a bandeira da vitória, trocando-os por antigos opositores que passam a usufruir dos regalos do poder momentâneo. Por isso, se costuma dizer que política não é para amador, mesmo assim, muitos ainda acreditam na “Invisibilidade do Óbvio”, que o ex-governador Brizola, advertia: “a política ama a traição…” Muitas décadas atrás, San Tiago Dantas, notável tribuno brasileiro, declarou que “o povo é melhor do que as elites”. Concordo com a assertiva de San Tiago, digo mais, no meu entendimento, o povo não trai, apenas se vinga dos maus políticos, deixando de elegê-los ou reelege-los.
MARIO THOMAS COLUNISTA
POLÍTICO DO ESPAÇO CARIRI
