Rua José Leite da Costa (Zé Lunguin)

A RUA JOSÉ LEITE DA COSTA, que inicia no entroncamento com a avenida Buriti Grande e Marechal Floriano e termina ao interceptar

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Início da Rua José Leite da Costa com Avenida Buriti Grande
Rua José Leite da Costa com Manuel Messias
Rua José Leite da Costa intercepta a CE-384

A RUA JOSÉ LEITE DA COSTA, que inicia no entroncamento com a avenida Buriti Grande e Marechal Floriano e termina ao interceptar a Ce-384, pontuada no seu percurso por equipamentos urbanos, prédios comerciais e residenciais: Escola Adauto Bezerra, Centro Educacional de Mauriti, Proares, pontos comerciais e residências. A rua é uma homenagem merecida a um político que representou, como poucos, os encontros e desencontro do seu tempo, conviveu com a ditadura Vargas e testemunhou a redemocratização do país; fez sua opção política no momento em os coronéis do interior cearense tinham o domínio da política local,  cuja ideologia se fundava em princípios do compadrio, do patrimonialismo e do mandonismo; práticas políticas exercidas com esmero pelos coronéis dos grotões, era, também, uma das sobrevivências para se permanecer no jogo do poder; Zé Lunguim, fez a opção pelo modus operandi do coronelismo, ao invés de enfrenta-lo, com isso assimilou suas práticas, em nome do partidarismo e da fraternal política regional. Esse era o figurino do pessedismo, fundado na ideologia do favor e do mandonismo local. A estratégia era se apoiar no poder governamental, atuar a partir da conexão de uma rede de coronéis regionais, amparado em chefes políticos distritais que tinham em torno de si os famosos “homens de confiança”, que lhes dava proteção e assombravam adversários. Zé Lunguim foi produto desse mundo, muito bem analisado por Victor Nunes Leal, em Coronelismo, Enxada e Voto, diz: “concebemos o “coronelismo” como resultado da superposição de formas desenvolvidas do regime representativo a uma estrutura econômica e social inadequada”; ou ainda, “o “coronelismo” é sobretudo um compromisso, uma troca de proveitos entre o poder público, progressivamente fortalecido, e a decadente influência social dos chefes locais, notadamente os senhores de terra. Desse compromisso fundamental resultam as características secundárias do sistema “coronelista”, como sejam, entre outras, o mandonismo, o filhotismo, o falseamento do voto, a desorganização dos serviços público locais. ” Zé Lunguim prosperou, politicamente, nesse meio, sozinho, sem o referencial familiar que pudesse lhe garantir segurança, seja política, financeira e/ou física; apareceu na política como outsider, com pouco mais de vinte anos, em um momento de transição, em que o Ceará e o Brasil estavam saindo de uma ditadura (Vargas) para adentra a uma democracia com Dutra presidente. Foi exitoso no seu intento, pelo menos no início de sua vida político-partidária, ao ser nomeado interventor de Mauriti com vinte quatro anos e vitorioso em 1954 ao disputar as eleições municipais contra a UDN, em cujo o seio estavam grandes famílias e o poder econômico local. Não obstante, suas gestões municipais (1945-1946) e (1955-1958) terem sido levada a cabo, enquanto o governo estadual esteve nas mãos de partidos adversários, PTR e PR, partidos que em Mauriti tinham seus representantes, que por sua vez, constituiam o lado político de seus adversários.José Leite da Costa foi eleito vereador para o mandato 1951-1955, em eleição para presidente da Câmara Municipal vitorioso nos dois mandatos: 1953 e 1954, exerceu a presidência da casa até o início do ano de 1955, quando foi sufragado prefeito municipal de Mauriti. O segundo mandato, a frente da municipalidade, sendo eleito para o quadriênio 1955-1958; a investidura como prefeito pela segunda vez, Zé Lunguim exerceu sob a tutela da UDN local, cujo poder estadual estava sob o comando do Governador Paulo Sarasate, eleito em sufrágio universal para a legislatura (1955-1958), pela UDN. O que contribuiu, de certa maneira, para que a gestão de José Leite da Costa (1955-1958) fosse de pouquíssimas realizações, mas sua força popular, sua empatia em relação a população mais pobre e a capacidade de montar a engenharia política local, junto aos coronéis distritais, fez com que conseguisse eleger seu sucessor, Dr. Elias Leite Fernandes.

José Leite da Costa

José Leite da Costa nasceu a 18 de junho de 1916, em Mauriti, iniciou nas lides políticas muito jovem e faleceu, também muito moço, com 52 anos, em 16 de setembro de 1968, ao ser alvejado a tiros, próximo ao circo Alegria, instalado na antiga rua da Lama, hoje rua Augusto Leite, que realizava seu último espetáculo na cidade. 

Conhecido, popularmente, por Zé Lunguim, filho de Mauriti, de pai paraibano, de Conceição do Piancó: João Fausto de Figueiredo, líder político da urbe paraibana, de quem foi interventor em 1936 e prefeito eleito em 1937, no albor da ditadura Vargas. A família de José Leite da Costa era constituída por três irmãos, por parte de pai: Antônio Mangueira de Figueiredo e uma irmã, ambos de Conceição, com quem mantinha pouco contato; por parte de mãe, Maria Leite dos Anjos, popularmente, conhecida como Maria Lunguim, tinha um irmão mauritiense, filho de José Nascimento, o empreendedor, César José do Nascimento com o qual contava, realmente, menos para as ações de enfrentamento armado; próspero agropecuarista, com atividades no ramo da agroindústria e reconhecido benfeitor nas áreas sociais, saúde e educação, Mauriti lhe deve o merecido galardão.

Zé Lunguim, casou-se em Mauriti, com a coletora fazendária estadual Naide Ferraz Leite, com quem constituiu familiar nuclear: a filha Salete Ferraz e os filhos Francisco Laércio Ferraz e Laélio Ferraz; após a morte de Zé Lunguim a família mudou-se para  Fortaleza; Laércio retornou a Mauriti e em 1970 foi eleito pela ARENA, vice- prefeito chapa de Newton de Vasconcelos Sobral, para o mandato 1971-1972; Salete  e Laélio permaneceram na capital cearense, ela servidora da Secretaria da Fazenda Estadual e ele funcionário da Caixa Econômica Federal.

José Leite da Costa debutou na política, muito jovem, no início da década de 1940, se movendo na areia movediça da política, nos estertores da ditadura Vargas; o poder estadual estava nas mãos de Francisco de Meneses Pimentel, eleito governador para a legislatura 1935-1937 e nomeado interventor para o período 1937-1945. Se filia ao PSD de Meneses Pimentel e aos vinte e oito anos foi nomeado interventor de Mauriti (1945-1946). Na presidência da república Vargas cometia seus últimos atos: edita a legislação eleitoral, obrigando a criação de partidos de caráter nacional. Com a deposição de Getúlio em 1945 os partidos políticos se preparam para voltar a funcionar; no Ceara, em outubro, Menezes Pimentel registra o diretório do PSD – Partido Social Democrático; em Mauriti, Zé Lunguim organiza o Partido Social Democrata – PSD, incensado pelo presidente Dutra, e com apoio de Meneses Pimentel; o partido fertilizado pelos poderes estadual e federal, atrai, inicialmente, diferentes correntes  partidários do município, arranjo político arquitetado por Zé  Leite da Costa: presidente da Comissão Provisória: seu  irmão Cesar José do Nascimento, vice-presidente João Salviano de Sousa Leite,(irmão do empresário e líder político Teodorico de Sousa Leite), secretário Elias Martins de Morais e tesoureiro Dezinho Ponciano de Morais, aparentado dos Sousa Leite; a composição do diretório segue a lógica da Comissão Provisória do partido, é um amálgama de facções políticas, pessedistas e futuros udenistas. Com essa engenharia política, Zé Lunguim demonstra sua argúcia como articulador, harmoniza o poder municipal, é visto pela direção partidária estadual, como líder político inconteste, atrai para si a admiração das lideranças maiores do PSD, é nomeado interventor de Mauriti, (1945-1946).

Com os bons ventos da redemocratização Dr. Manuel do Nascimento Fernandes Távora, em novembro 1945, solicita ao TRE o registro estadual da União Democrática Nacional – UDN. Daí se recompõem os quadros partidários de Mauriti: o PSD é assumido por Zé Lunguim com seus parentes e amigos; migram para a UDN os Salviano, Leite, Cartaxo, Ponciano, Pimenta, entre outros, sob o comando de Teodorico de Sousa Leite. A partir da consolidação dos partidos, em nível estadual e sua estruturação nos municípios, há nitidez no campo partidário com reflexo nas representações legislativas e na atuação do executivo: congresso nacional, assembleias legislativas e câmaras municipais, bem como nos respectivos níveis do executivo.

Em vinte e cinco de março de 1945, é composto o Diretório Municipal do PSD: presidente: José Leite da Costa, vice: Cesar José do Nascimento, secretário Aldo Silveira de Alencar, segundo secretário: professor Geovane Chaves, tesoureiro: Dezinho (Dezim) Ponciano. É o novo PSD, sangue puro, sob o comando de José Leite da Costa e apoiado por importantes chefes políticos distritais: Chico Amâncio, João da Cruz, Raimundo Felipe, Major Joaquim Antônio Furtado (Quinco Lulu), a família Miguel, em São Miguel, entre outros.

Em 1946, tem início a reconstitucionalização do país, o processo democrático avança, com a realização das eleições gerais; definida a arquitetura partidária da nação, no Ceará destacam-se os partidos: PSD, UDN, PSP, PR, PRP, PCB, PTB, com seus representantes locais.

Em Mauriti, o PSD permanece no poder em 1945 e 1946, em obediência à legislação federal, nos termos da lei constitucional número 9 de 28 de fevereiro de 1945. Em 2 de dezembro de 1945 são eleitos os representantes da Câmara Federal e do Senado Federal que passam a reunir-se como Assembleia Constituinte. Em face do Decreto-lei nº 8.063 pelo fato do TSE não o ter regulamentado, as eleições para governador só correram em 19 de janeiro de 1947. Mas, antes nas eleições de 2 de dezembro de 1946, são eleitos dois senadores pela coligação UDN-PPS; a UDN assume as rédeas do poder municipal de 1947 a 1950. Na eleição de 1947 Zé Lunguim é leito Vereador pelo PSD para o mandato de 1948 a 1950; época em que se envolveu em enfrentamento pessoal, em face dosso, foi apresentada pelo delegado de polícia à Câmara Municipal, (1948) queixa crime contra o vereador José Leite da Costa, para apreciação da casa.  Em defesa de Zé Lunguim intercedeu o vereador José Joaquim de Moraes, conseguindo engavetar a denúncia. Na chefia da administração municipal a UDN, com Dr. Teodorico Fernandes T. Cartaxo, eleito prefeito; no Estado foi eleito o Desembargador Faustino Albuquerque pela coligação UDN-PPS, e mais os dois senadores da coligação; no PSD foram derrotados os candidatos ao Senado Federal, Meneses Pimentel e Cesar Cals de Oliveira.    

Na oposição, Zé Lunguim, eleito vereador pelo PSD, se articula com as lideranças do partido na capital, no Cariri conta com o deputado estadual Wilson Gonçalves, eleito com base no Crato.

Em 1954 Zé Lunguim é leito prefeito, para o mandato de 1955 a 1958, em pleito realizado com o apoio da cúpula estadual do PSD, o governador Raul Barbosa, um senador e bancadas federal e estadual, em exercício. Porém, a eleição estadual de 1954, limita o espaço de manobra política de Zé Lunguim, uma vez que terá que governar o município, tendo no poder estadual a UDN, Paulo Sarasate; na Assembleia Legislativa contava, agora, com o deputado Wilson Roriz – PSD, mas a UDN local era respaldada pelos deputados estaduais: Décio Teles Cartaxo (Crato/Mauriti) e José Napoleão de Araújo (Brejo Santo). O que dificultou, em muito, a administração de José Leite da Costa. Mesmo com uma gestão engessada e de nenhuma realização impactante, Zé Lunguim consegue eleger seu substituto; para tanto, montou uma chapa organizada com muita perspicácia e habilidade políticas: trouxe para ser candidato do PSD o jovem promotor de justiça Elias Leite Fernandes, filho do coronel Joaquim Antônio Furtado (Quinco Lulu), chefe de Umburanas; aparentado do major Pedro Maranhão, chefe político de Coite/São Miguel/Nova Santa Cruz que acolheu a candidatura do filho de Umburanas de mangas arregaçadas; na Palestina tinha o apoio de João da Cruz/Chico Amâncio e Raimundo Felipe e das respectivas famílias; na sede atraiu para vice de dr. Elias Leite, o industrial Otacílio Alexandre da Silva, com grande penetração no meio dos agropecuaristas, além de contar com a simpatia do comércio local. Para enfrentar o candidato do PSD a UDN fez um arranjo patrimonialista de risco, colocou como candidato a prefeito Dr. Dagmar Cardoso de Medeiros, filho da capital de Pernambuco; mesmo sendo genro de Teodorico de Sousa Leite, chefe inconteste da UDN, colou no candidato a pecha de forasteiro, a opção popular passou a ser o filho de Mauriti, do distrito de Umburanas: Elias Leite Fernandes.

José Leite da Costa que se criou distante do pai, já que esse vivia  com sua família matrimonial na cidade de Conceição do Piancó; de pouco estudo, classe média baixa,  mas cujo o tirocínio político era respeitável; muito talento para o jogo eleitoral, habilidades indispensáveis para costurar arranjos políticos, era um homem de decisões e atitudes fortes, perseguia um projeto de vida, o que o qualificou na condução de seu projeto político junto as lideranças maiores de seu partido e se consagrou, pela empatia,  perante as populações mais vulneráveis do município de Mauriti.

Francisco Cartaxo Melo
Consultor Organizacional

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