Ricardo Coutinho nos afrontou também

A vibrante história da Paraíba, se por um lado cativa os estudiosos, por outro desperta curiosidade e admiração aos que, simplesmente, a

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A vibrante história da Paraíba, se por um lado cativa os estudiosos, por outro desperta curiosidade e admiração aos que, simplesmente, a observa; seja no diferencial de sua ocupação: pelos holandeses, que lhes deram um nome escandinavo, em homenagem uma de suas mais importantes cidades, a época: Frederikstad, antigo assentamento da Nova Holanda as margens do rio Glomma.  Ocupada pelos holandeses a capitania permaneceu como apêndice geopolítico da Holanda nos trópicos, isolada do comando da metrópole portuguesa, sob administração da Companhia das Índias Ocidentais, que indicava seus administradores. Ao resistir com ajuda dos portugueses, volta a ser Nossa Senhora das Neves; em 1929/1930, sua oposição radical ao domínio da política nacional do café com leite, (São Paulo-Minas Gerais), que culmina com o assassinato de João Pessoa e inspira a bandeira rubro-negra que tremula, destacando em seu centro a palavra   NEGO, síntese da resistência política às oligarquias de São Paulo e Minas e símbolo de   aliança e insatisfação, signo de sua gente valente e honesta.

Com a República teve um dos melhores quadros políticos e administrativos do Brasil: Epitácio Pessoa, ex-presidente, jurista renomado;governadores respeitáveis: João Pessoa Cavalcanti, Osvaldo Trigueiro, Ernani Sátiro, Ivan Bichara, Tarcísio Burity, Ronaldo Cunha Lima , José Américo de Almeida entre outros. Zé Américo, reserva moral da nação, intelectual de escol, soube ao escrever A BAGACEIRA “olhar nos olhos o sangue e a alma de sua gente”; na política se esmerava no exercício da probidade e da efetividade ética, na defesa da coisa pública.

 A modernidade, paradoxalmente, para nossa tristeza pariu decepções, pois, assistimos, via televisão, a improbidade e a corrupção mancharem a história política e administrativa da Paraíba, pelas mãos despudoradas do ex-governador Ricardo Coutinho, nódoa que paira como uma nuvem negra sobre a vida pública paraibana: vereador de João Pessoa (1993-1999), deputado estadual (1999-2004) e prefeito da capital por duas vezes, chega ao governo do estado com uma carreira invejável; porém, deixou de considerar os ensinamentos de José Américo de Almeida; não aprendeu nada com sua práxis política, muito menos tomou como exemplo sua irreprovável prática administrativa.

O impacto da operação Calvário da PF que alcançou Coutinho: primeiro nos surpreendeu pelo que se ouvia de sua administração antes das denúncias de corrupção; hoje nos entristece por ver que cada microfone de TV ou rádio que difunde o escândalo decepciona os paraibanos e mancha a vida política e administrativa do Estado, cultivadas ao longo de sua história por políticos valorosos e respeitáveis homens públicos

Mauriti sempre teve os olhos focados nos bons exemplos da Paraíba e os ouvidos atentos as palavras de seus políticos, uma vez que nossa posição, geograficamente, equidistante, seja em relação a Cajazeiras e ao Crato-Juazeiro, seja a Fortaleza e a João Pessoa, nos coloca em posição estratégica para acompanhar os acontecimentos, tanto do Ceará como da Paraíba.

A nossa proximidade com Cajazeira nos fazia ouvir pela rádio pronunciamentos ou comícios de seus políticos, inspirados na decência de homens públicos como Abelardo Jurema; e de ex-prefeitos: Otacílio Jurema, Antônio Cartaxo Rolim, Epitácio Leite Rolim, exemplos que Coutinho olvidou pela ganância; como governador de uma nova geração que acreditou em sua fulgurante carreira, política e administrativa, deixou o legado histórico de corrupção e a marca indelével da triste decepção.  

Ao ex-governador Ricardo Coutinho antecederam uma constelação de grandes políticos paraibanos com quem deveria ter aprendido muito: a decência e integridade moral de Abelardo Jurema; Zé Américo de Almeida que dizia: “deixarei vir todo o ouro do mundo sem procurar saber donde vem, mas somente se é honesto ou suspeito”.   As peripécias de Coutinho, todavia, estão escritas em Maquiavel: “Todos veem o que você parece ser, mas poucos sabem quem você, realmente, é” pensava, assim, o ex-governador; ao decifrar seu enigma a PF desmonta sua esperteza mal resolvida. E, assim, decepciona eleitores, contemporâneos políticos e nega a tradição escorreita da política paraibana. Não obstante, o pesar, ao lado dos paraibanos reforçamos nossa profissão de fé em um povo que não se deixa abater, nem desanima.

Francisco Cartaxo Melo – economista – aposentado do Iplance/Seplag-Ce – Prof. Aposentado da Universidade Estadual-CE

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